domingo, 7 de junho de 2009

PROJETO CONTANDO E RECONTANDO HISTÓRIAS

Contando e Recontando

Participantes: alunos e alunas de Pedagogia e suas crianças colaboradoras.

Objetivos:

- Vivenciar a corporeidade através do conto. (Há quanto tempo não se olha nos olhos? modula-se a voz, percorrem-se as fantasias, convida a criança, se embala com ela, mas, sem um coelho branco a nos apressar? Qual criança?).

- Aproximar conto, cotidianidade e protagonismos.

- Reescrever relações, imaginações, possibilidades e letramentos nas trilhas do conto, do olhar, do gesto, do sentimento, da evocação, do re-criar, da releitura e autorias.

No corpo, a imaginação - o processo criativo se desenrolam, cria-se o que não se tem, se deseja... Não é possível? Inventa! A falta abre brechas. As coisas em volta simbolicamente se transformam no objeto do desejo. Faz-se de conta! Se com Lacan nos constituímos sujeitos, em Wallon nos construímos como pessoas. Somos o Outro, o imaginário que nos constitui, um espelho em busca de sua sombra, semblante, auto-imagem. Aos poucos vamos construindo a nossa autoria pela linguagem, no processo de querer dizer ao Outro. Imaginar, reinventar, reconstruir-se. As pessoas se sentem felizes quando alguém lhes dá a devida atenção, a criança exige-nos o prestar mais atenção nela. E nós, na escola, exigimos sua atenção. Até que ponto há sincronicidade? Assim das (des)atenções nasce o princípio da alteridade - da Outridade. Para Lacan, o Outro tem letra maiúscula.

Em Wallon, a construção significa que a nossa personalidade se prolonga no tempo, em Lacan, ao nos constituirmos como sujeitos, provocamos um momento de ruptura nesse estado, no estar. Assim buscamos nos diferenciar no sentido afetivo-cognitivo, orientados pela evolução da consciência de si e do Outro. Tornamo-nos pessoas completas por sermos marcados de contradições e conflitos de ordem emocional, afetiva, cognitiva e motora. Nada linear.

Wallon marca o papel das emoções para a constituição de nosso psiquismo e Lacan ressalta a função da linguagem que tece o sujeito e o social, a Outridade. O sujeito se estrutura nas falas e a palavra sustenta seus sentidos. As crianças e nós, como seus aprendentes, nos desenvolvemos com o olhar walloniano, as implicações educacionais e ao mesmo tempo desenvolvemos a escuta lacaniana, aprendendo a dialogar com as estruturas desse ser em intenso movimento.

Presença pedagógica e terapêutica: ouvir histórias, imaginar, fluir-se. É uma questão de ser, sentir, estar próximo ao Outro, imaginar, ter atitudes - saber e fazer!

Vem José Paulo Paes (s.d.), na releitura de La Fontaine, poetizar:

A formiga é só trabalho.
A cigarra é só cantiga.
Mas sem a cantiga da cigarra
Que distrai da fadiga
Seria uma barra
O trabalho da formiga.

Saber-Sentir-Agir. Saber ciência, saber cultura, saber experiência, saber agir, saber sentir, saber olhar, saber pensar... é o mundo do conhecimento!

Com o olhar walloniano – das emoções e sentimentos que unem – e a escuta lacaniana – que reparte o que é da ordem do imaginário, da fantasmização, de identificação com o outro – e aponta as singularidades, em busca do seu diferencial, e paradoxalmente, de ser o outro da novela de rádio – cruzada, modificada, multiplicada. E o mundo se torna complexo. A palavra verdadeira – uma busca sem fim – onde a dinâmica semiótica é suscetível de remanejar o que for imaginário ou contingente. Entre o contador de histórias e o ouvinte, o leitor e o autor, existem trocas simétricas contínuas. Redescobrindo-se!

Espera-se com esse trabalho aprender ensinando, movimento contínuo - processo simultâneo, recíproco, paralelo - ainda mais com os acadêmicos e suas crianças colaboradoras sobre literatura - em ação - na práxis infinitamente complexa. Cuja didática é a ciência! O aprender pela pesquisa cotidiana, de saber escutar, saber ver, saber pensar para sentir e (res)significar mais!

Encaminhamento:
- Escolher uma criança que colabore com a sua forma de olhar a leitura, a ouvir uma história e perceber como ela ouve e destaca as partes ou o conjunto do que lhe é contado.
- Escolher uma história diferente, algo que ela não conheça bem, não tenha lido ou ouvido, contar a história e pedir que ela reconte.
- Se possível, gravar o reconto, mas, de preferência, de uma forma espontânea e natural.
- Transcrever sua fala, fazer a comparação e analisar os discursos.
- Ao final, pedir que a criança desenhe a parte da história que mais gostou e depois que escreva/transcreva a frase ou palavra-mundo que mais chamou sua atenção.

A atividade pode ser feita individualmente ou em duplas.

Qual é a função do conto? Qual relação existe entre oralidade (poder criador e mutabilidade) e escrita (imutabilidade e imortalidade)?

"Não devemos nos surpreender se somos levados a considerar com olhos novos aquilo que pode ser o papel da oralidade na Grécia" (HAVELOCK, 1996).

Nenhum comentário:

Postar um comentário